Os céticos, no fundo, têm um espírito que busca incessantemente por uma espiritualidade em Deus
DURANTE O TEMPO em que vivi nos meios acadêmicos, na condição de aluno, tive muitos embates com professores céticos. Muitos deles, querendo zombar da minha fé perante meus colegas de turma, faziam comentários duros e debochativos acerca de Deus. Mas eu sempre os questionava com o argumento bíblico, científico ou filosófico, dependendo da linha de raciocínio que tal professor ou professora apresentava.
Certa vez fui questionado sobre a existência de Deus.
— Como você prova que Deus existe? — Perguntou a pessoa.
— E como você prova que Ele não existe? — Retruquei.
Então eu continuei, fazendo algumas exposições sobre o assunto. Disse que, decerto, eu tinha de concordar com ele em relação à ideia de que Deus não existe.
— De fato Deus não existe — disse eu. — Você tem razão. Deus “É” antes da existência. Não foi a existência que trouxe Deus. Mas Deus trouxe a existência. Pegue qualquer dicionário e busque pela palavra “existência”. Lá vai estar dizendo que existência é “estado de atividade funcional que começa com o nascimento e termina com a morte”.
Então expliquei a ele que Deus não “nasceu” e nem “morrerá”. Isto porque Ele é eterno. E quem é eterno não existe, porque a eternidade “É”, desde sempre, antes da existência. Portanto, Deus não depende da existência, pois é a existência que depende de Deus.
Na sua obra “Analectos”, Confúcio (552 a.C. a 489 a.C.) — que foi um filósofo e pensador chinês do Período das Primaveras e dos Outonos — conta que Zi-lu perguntou como servir aos espíritos e aos deuses. Confúcio respondeu: “Se você não é capaz de servir a outras pessoas, como seria capaz de servir aos espíritos? Zi-lu disse: “Posso lhe perguntar sobre a morte?” Confúcio respondeu: “Se você ainda não entende a vida, como poderia entender a morte?”
A verdade é que os céticos só se dizem ateus porque não entendem nada sobre a vida e a morte. Se entendessem, jamais negariam a Deus.
Robert C. Solomon, filósofo e escritor norte-americano, disse que a palavra “espírito” evoca muitas imagens. Espírito, antes de tudo, lembra espiritismo, espirituoso, vivaz, engraçado, inteligente. Solomon lembra que Hegel insistia acreditar que o corpo e a mente eram uma coisa só, e que a totalidade da natureza é Espírito.
O filósofo Friedrich Nietzsche tentou conceber até a alma como fisiológica, exatamente como a visão de mundo de Homero e dos gregos antigos. Todavia, isso seria um erro enorme, isto é, confundir semelhante naturalismo com materialismo científico, ou seja, a redução de mente, alma e espírito aos elementos básicos de uma biologia desprovida de alma. Deus, entrementes, tem o controle de tudo, inclusive da ciência. Isto quer dizer que as ideias dos homens só vão até onde o Senhor permite.
Nietzsche, que era de família protestante tanto por parte da mãe como porte do pai, disse que, por vezes, queremos realmente permitir que a existência seja degradada para nós da maneira como queremos, isto é, reduzida a um mero exercício para uma calculadora. De fato, o pensamento humano, longe de Deus, procura se reencontrar com o sagrado desde quando o homem se afastou do seu Criador por meio da tragédia do pecado.
Hegel e Nietzsche rejeitaram um conceito de alma que se afastasse, sob algum aspecto, do terreno e do natural. Mas nenhum dos dois podia tolerar um mundo desprovido de alma. Um mundo, aliás, sem o sagrado e sem espiritualidade. Um mundo sem Deus.
Tenho um sonho de que as igrejas e seus líderes no Maranhão e em sua capital, São Luís, se unam para debaterem essas e outras questões, organizando congressos, conferências, seminários, etc., abertos ao público para que possamos atrair a comunidade externa no sentido de que as pessoas, em geral, se interessem pelo evangelho e conheçam que, na igreja, também têm pessoas com visão de mundo correta acerca da vida e de Deus. O mundo precisa compreender a verdade do evangelho. E se isto acontece, por meio do diálogo da igreja com o mundo que Deus amou, os homens (céticos ou não) jamais resistirão ao Senhor.
Recentemente falei com o pastor Zezinho Oliveira, da Igreja Assembleia de Deus Cristo para as Nações, sobre a ideia de promover congressos e outros eventos de aprendizado e fortalecimento da fé cristã. Tratar-se-á de uma agenda anual das igrejas cristãs para trabalhar a maturidade dos cristãos em nível da capital, São Luís, e do estado do Maranhão.
Líderes como o apóstolo Marcos Nascimento, o pastor Almir André, Joás Albuquerque, pastor André Sousa (COMADEMA), pastor Alex Martins (UNICAJE), pastor Fábio Leite e, enfim, demais pastores e líderes de igreja da grande Ilha de São Luís podem e devem se unir em prol de um projeto macro para promover o magistério da igreja. Além disso, envolver o poder público e as autoridades públicas, bem como empresários e comunidade em geral seria uma estratégia de ação acima de tudo categórica no sentido de envolver a opinião pública na natureza da essência do evangelho de Jesus. A sociedade precisa colocar na cabeça que o evangelho de Jesus não é religião. O evangelho de Jesus, o Cristo, é poder de Deus para salvação de todo aquele que nEle crer (Romanos 1.16).
Mas, para a sociedade compreender isto, é necessário que a igreja, Corpo de Cristo, dialogue com o mundo. O mundo que Deus amou (João 3.16). Pelo que tenho visto, todos concordam comigo. Mas apenas concordar não é o bastante. É necessário praticar e fazer. O mundo precisa ser salvo por Jesus. Precisa ser alcançado pelo Evangelho de Deus. As instituições sociais estão cheias de céticos. E isso torna a sociedade arruinada. Mas ninguém é cético o suficiente para não ser salvo por Jesus, o Cristo. Se a igreja de Jesus dialogar com o mundo, as pessoas compreenderão o Evangelho. E uma vez compreendendo o Evangelho, elas se entregarão a Cristo, e serão salvas do fogo eterno. Crer é compreender. Para compreender é preciso ouvir. E para ouvir é preciso ser ensinado. E para ser ensinado é preciso que alguém — no caso a igreja do Senhor — se disponibilize a ir e ensinar (Mateus 28.19-20).
É preciso entender, antes de tudo, que o “sagrado” evoca também uma paixão partilhada não mística, como em expressões tão seculares quanto “espírito de equipe” e o “espírito dos tempostos”. E, nesse sentido, é uma ideia caracteristicamente social, o que fica evidente em interpretações mais práticas do Espírito Santo como os laços de sentimento mútuo numa comunidade espiritual, conforme explicava Robert C. Solomon enquanto viveu. A linguagem com a qual explicamos isto é filosófica mas muito coerente em sua lógica e sapiência.
Eu sugeri ao pastor Zezinho Oliveira sobre a promoção de eventos educativos para a igreja em São Luís e no Maranhão porque lembrei que a filosofia de Hegel celebrou o “espírito popular” dos gregos antigos, em contraste com o que ele via como a preocupação alienante com o outro mundo e a “positividade” do protestantismo contemporâneo. Em sua obra mais madura, Hegel comparou o espírito de moralidade popular com as regras abstratas e a hiper-racionalidade da moralidade moderna.
Em sua política, também, o espírito é o que abarca toda a humanidade, em contraste com a particularidade de estados, e é esse mesmo espírito-do-mundo que transcende o sectarismo infantil da religião contemporânea. Seja como for, o espírito é social. Representa nossa sensação de experiência participar e pertencer a uma humanidade e a um mundo maiores que nossos “selves” individuais, em que, por vezes, achamos que nossa experiência consciente é única e se diferencia dos outros. Na verdade, aqui está o sentimento e pensamento conflitante da nossa personalidade.
Isso é ainda mais importante hoje que no tempo de Hegel. Em sua época, Hegel via a aurora de uma Europa internacional. Agora, estamos todos vendo a realidade de uma humanidade global, bem como o espectro emergente da própria Terra como uma pátria partilhada mas profundamente ameaçada. A atual situação do Brasil, no seu aspecto político e social, é um grande exemplo disso.
“Sagrado”, em seu emprego mais dramático, refere-se a uma esfera que é sobrenatural, uma esfera de “espíritos”: musas, deuses e deusas, anjos, demônios e — partilhando nosso espaço secular — fantasma. Como não sabemos nada dessa esfera (exceto o que lemos nos livros e vimos nos filmes), não temos grande coisa a dizer a respeito. Precisamos estudar mais, pesquisar a respeito e debater entre nós os temas espirituais e seculares. Nesse sentido, entrementes, estética e politicamente, vamos debater a ideia preferível de um mundo espiritual ricamente povoado pela imagem monoteísta do único e verdadeiro Deus.
O mundo espiritual não está em parte alguma se não aqui, seja o que for que esse mundo designe. Somos espíritos e, portanto, espirituais. E quem é Deus vive no Espírito. Quando os céticos descobrem isto e entendem isto, eles mudam de posição, mudam de realidade e passam a viver no Espírito, isto é, na dimensão superior da existência. Por isso, vale a pena a Igreja de Jesus dialogar com o mundo que Deus amou, até que todos entendam o grande significado e a importância desse grande amor de Deus.